sábado, 17 de julho de 2010

Poético-editorial.

Ao (bom) leitor (de língua portuguesa):

O que realmente queremos é desinformá-lo da forma mais formal. Desejamos formatar seu pensamento às avessas, subverter sua velha lógica cartesiana; queremos consumir o cantinho mais abandonado do seu cérebro de maneira lúdica e propositalmente pseudo-alienada.

Não estamos aqui pra agradar a ninguém senão a nós mesmos e achamos que você também pensa assim. Tenha o direito de discordar, é claro.

Queremos nos divertir (por que não?), mas sem abrir mão do sórdido mundo factual; de fato, sem compromisso com o politicamente correto que, para nós, significa incorretamente político.

A variação de assuntos deve seguir a ordem natural de oscilação de humor de cada um (leitor/jornal), mas também, de vez em quando, acompanhar algum grande (ou médio, ou pequeno) acontecimento. Na verdade, a dimensão de cada ocorrido deve ser sintetizada pessoalmente, sem interferências.

Queremos meter a colher (e muito mais) em tudo o que for gostoso (ou irritante, ou esquisito) de se cutucar, se é que me entende.

A sua fantasia é só sua, mas as nossas alegorias pretendem enfeitar seu palco, sua pista, seu campo, sua sala, sua casa, sua vida, sua alma. Não esperamos que goste, nem que desgoste, mas que interprete à sua moda. Não seguimos tendências, senão somente a linha traçada pelos infindos pensamentos que banham o intelecto dessa meia-dúzia (ou quase) de loucos-normais.

PS: A equipe de "Le Cadavre Exquis" é contra a nova reforma ortográfica, e tende a rechaçar qualquer tipo de reforma autoritária e sem razão de existir. Queremos expor nossas idéias "acentuadas" e não ter preguiça de escrever "lingüiça" com trema.
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Nota.

Aquelas notas escritas,
tocadas, ouvidas, cantadas
pelos mesmos que leram
os papéis, comeram
os pastéis-de-feira
e foram trabalhar
na segunda hora,
à sua maneira,
agora não se sente mais.

Já não se nota
o burburinho inquieto
daqueles que, de perto,
gritaram, lutaram, morreram,
a cada dia um pouco mais
e, ao menos, conseguiram chamar
atenção ao que realmente importa,
para que todas as tortas portas
se abrissem na mesma direção.

Já não se anota mais
em papel de jornal;
prefere-se um impessoal
aparato meramente calculador,
colorido e preto-e-branco,
cheio de manhas, capaz
de façanhas incríveis
e sensíveis formas de distanciamento,
chamado "pessoal computador".

Já não me importo mais
com você; se lê ou se não lê,
para o bundalelê é tudo
como todo mundo sempre quis;
o mundo é legal,
é ilegal ser feliz,
e a maneira formal de exprimir
tudo o que sentir
é participar de "le cadavre exquis".

-Felipe Sanches
(O bom moço, que cansou-se de ser bom e já não é mais tão moço).

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